O Rei Paciente
São Luís IX, rei de França - Patrono da OFS
Ordem Franciscana Secular
Festa: 25 de agosto
O
que permite a São Luís converter seus sofrimentos em méritos é a paciência. Enquanto foi prisioneiro dos sarracenos e
sofreu terrivelmente com a “doença das hostes”, respondeu a esses sofrimentos
com a paciência e a oração. O único de seu círculo doméstico que ficou com
ele foi o cozinheiro Ysembart, que, por intermédio de Guillaume de
Saint-Pathus, testemunha:
Nunca se viu o abençoado rei irritado nem
revoltado por causa de sua condição, nem murmurando contra nada; mas com toda a
paciência e indulgência ele suportava e resistia a suas ditas doenças e a
grande adversidade de sua gente, e estava sempre em oração.
Bonifácio
VIII fala dessa paciência na bula de canonização, mas a palavra latina patiens (“que suporta com paciência”,
mas também “ que sofre de”) é mais ambígua: “O rei que suporta com paciência
[?] uma infecção intestinal e outras doenças”( eodem rege tunc temporis fluxum
ventris et aegritudines alias patiente).
Luís
não se contenta em aceitar o sofrimento, ele o sublima:
Assim,
como homem totalmente ancorado na fé, e inteiramente absorvido pelo espírito,
mais estivesse esmagado pelos males da adversidade e da doença, mais fervor
mostrava e mais se manifestava nele a perfeição da fé.
Nos
Ensinamentos, põe no mesmo plano a
perseguição, a doença e o sofrimento. Não
recomenda ao filho e à filha apenas suportá-los pacientemente, mas que sejam
reconhecidos quanto aos méritos que com isso adquirirão. Nesses textos, São Luís
usa também uma expressão muito característica de sua concepção da vida afetiva:
fala de “tormento do coração”, num paralelismo subentendido com “ tormento do
corpo”, porque para ele, mais que a correspondência alma e corpo, espírito e
corpo, essencial é a correspondência coração e corpo. Com a promoção do coração, é uma renovação de sensibilidade
e de vocabulário que se esboça aqui.
Finalmente,
na única vez em que Luís fala do Purgatório em nossa documentação, é para dizer
ao leproso de Royaumont que ele visita que sua doença é “seu purgatório neste
mundo”. São Luís, conservador nesse ponto, adere assim à velha doutrina (mas
Santo Tomás de Aquino também não exclui essa possibilidade) de Gregório Magno,
segundo a qual se pode sofrer “a pena purgatória” aqui na terra. Sobretudo,
São Luís mostra aqui sua concepção fundamental da doença: é a ocasião de passar
da purgação à purificação, do castigo-penitência à salvação, por um mérito que
ainda se pode adquirir aqui, mas não no além.
Rei
doente, rei paciente, rei transformando em mérito seu sofrimento físico, São
Luís não é, no entanto, um rei “triste”.
Joinville bem nos diz que fora dos períodos _ a sexta-feira, por
exemplo_ em que, por motivos religiosos, afasta os sinais exteriores de
felicidade, o temperamento natural do rei é alegre: “Quando o rei estava com
alegria.” Talvez nisso também haja um traço de espiritualidade franciscana.
São Luís Biografia Pág. 768 a 770 – Jacques Le
Goff, Editora Record, 1999.
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