Encontro de Conselhos do 1º Distrito
Aconteceu ontem, dia 14 de julho o Encontro de Conselhos do 1º Distrito na cidade de Petrópolis, na sede da fraternidade do Sagrado Coração de Jesus. Vivemos momentos de convívio fraterno e formação e dinâmica baseadas no texto “Laicato Maduro e Significativo para novos tempos” escrito pelo Assistente Nacional da OFS Fr. Almir Ribeiro Guimarães.
No encerramento do encontro, foi a celebrada a Eucaristia pelo Fr. Edcarlos Hoffman, OFMCap, Assistente Espiritual do Regional.
Agradecemos a acolhida carinhosa dos irmãos da Fraternidade do Sagrado
Coração e dos irmãos do Conselho Regional.
Abaixo transcrevemos o texto na íntegra, conforme publicado pelo autor
em http://www.franciscanos.org.br
Laicato maduro e significativo
para novos tempos
Frei Almir Ribeiro
Guimarães (*)
A Ordem Franciscana Secular é a mais antiga forma de organização de
leigos que, guiados pela Igreja, unidos em fraternidade e inspirando-se no
ideal de São Francisco de Assis, se empenham em testemunhar com a vida o
Evangelho de Jesus Cristo e se dedicam ao apostolado no estado laical (Palavras
de João Paulo II dirigidas aos franciscanos seculares)
Os franciscanos seculares encontram na Regra o projeto evangélico e o
auxílio necessário para poderem se tornar efetivamente instrumentos da
reconciliação universal operada por Cristo. Tal projeto franciscano supõe a
colaboração com a ação de Deus no interior das estruturas humanas. A expressão
“no interior” é de fundamental importância porque afirma que a santidade, a
“perfeição da caridade” que os franciscanos seculares são chamados a realizar,
não passa “acima” de sua condição humana, tanto individual como social, não se
realiza “apesar” de viverem em família, de trabalharem, estudarem, lutarem por
uma sociedade mais justa, pela justiça, pela paz…, mas – essa é a grande
verdade que Francisco intuiu – tal santidade é alcançada precisamente pelo fato
de viverem fiel e evangelicamente todas as situações próprias da condição
secular (Manuale per l’assistenza all’OFS e alla GiFra, p. 89).
1. A Ordem Franciscana no Brasil tem refletido sobre muitos temas
importantes que visam alimentar a vida dos irmãos e das irmãs. Nos últimos
tempos temos estudado a questão do senso de pertença à Ordem, as
características de nossa identidade, a ação concreta no mundo, a presença dos
irmãos no mundo, o senso missionário, a revitalização de nossa vida fraterna e
das reuniões gerais, o cuidado pelo criado. Duas questões parecem nos preocupar
no momento: Como formar na OFS um laicato vigoroso e maduro? Que expressão têm
os franciscanos seculares em nossas dioceses e no mundo?
2. Não há dúvidas. Os franciscanos da Terceira Ordem são seculares.
Secular não quer dizer pessoa que adota o secularismo, ou seja, exclusão do
mistério da Transcendência. Os terceiros vivem no mundo. Casam-se, trabalham,
empenham-se por viver o Evangelho na sociedade dos emergentes, do
neoliberalismo, do consumismo, da comunicação e da exclusão. Inquietam-se com
tudo aquilo que, no mundo, é contra o espírito cristão, a espiritualidade franciscana
e a Regra que professaram. Inquietando-se com isso, dão testemunho do
contrário. São seres leves, alegres e transparentes.
3. Nas últimas décadas falamos sempre em Ordem Franciscana Secular.
Insiste-se, portanto, no secular. Esse secular é para valer. Documentos
exarados de Capítulos da Ordem em diferentes níveis nos últimos tempos insistem
na presença dos irmãos no mundo. Na medida em que os candidatos à vida
franciscana secular forem sendo formados no espírito da Regra, esperamos poder
ter em nossas fileiras um laicato maduro e nossas fraternidades serão
significativas, ou seja, irradiarão o Evangelho no meio das realidades
terrestres.
4. Teoricamente estamos todos de acordo que a OFS seja caracterizada
pela atuação no mundo. Uma coisa é a teoria e outra, a prática. Os membros da
Ordem não são franciscanos “apesar” de serem casados, de terem filhos, de
trabalharem na abertura das estradas ou na bolsa de valores. Estamos diante de
leigos corajosos que implantam o Reino nas realidades terrestres e suas
primeiras e fundamentais preocupações não podem ser as atividades litúrgicas e
os serviços religiosos “ad intra”. Estão postados diante de um mundo cheio de
desafios e têm a missão de torná-lo cristão. Haverão de se constituir numa
laicato maduro e significativo para os novos tempos.
5. Vivemos tempos novos na Igreja e no mundo. Não nos cansamos de dizer
isto. O mundo destes primeiros anos do novo milênio tem pouco a ver com a
década de 40 ou 50 do século passado. Na Igreja e no mundo não podemos nos aferrar
a posicionamentos que se tornaram obsoletos, anteriores a toda a uma série de
reformas e atualizações (aggiornamento) da Igreja. O passado e a maneira de
viver o cristianismo e o franciscanismo ficaram estreitos e não cabem mais em
nós como uma roupa que ficou apertada. Não podemos nos enclausurar no passado e
viver da nostalgia. Temos que olhar para frente e imaginar um amanhã conforme o
desejo do Espírito. Estamos terminantemente proibidos de viver a vida cristã
franciscana como mera repetição do passado. Seria faltar com a coragem de
acolher a novidade do Espírito. A Regra que a Igreja nos deu aponta para tempos
novos.
6. A Ordem Franciscana Secular, de modo especial pela “modernidade” de
sua Regra, é constituída de homens e mulheres dos tempos novos. Algumas de
nossas fraternidades ainda respiram os ares anteriores à promulgação da Regra e
de sua assimilação. Estamos convencidos de que as fraternidades novas que vão
surgindo serão grupos que darão substanciosa contribuição para tornar o mundo
mais humano e a Igreja mais e mais sacramento, sinal do mundo novo. Imaginamos
os franciscanos seculares leigos maduros e em franco processo de
amadurecimento.
7. O tema de um laicato maduro se une ao de um grupo que tenha
significação, que seja expressivo no atual contexto do mundo e da Igreja. Que
visibilidade têm as fraternidades franciscanas seculares? Que influência têm os
membros na Ordem nas paróquias, na dioceses e na vida da cidade? O simples fato
da existência de uma fraternidade é levado em consideração, reconhecido, pelos
membros de uma paróquia? Que influência exerce a OFS na Igreja do Brasil? Será
que está desempenhando, nos diferentes níveis, um papel decisivo de
reconstrução da Igreja no começo deste novo milênio? De que visibilidade
gozamos? Leigos, bispos e sacerdotes esperam de nós colaboração na
transformação da realidade e da Igreja? A OFS deverá ser constituída de um
laicato maduro e expressivo.
8. Laicato – Não é aqui o lugar de fazer um tratado sobre esse tema
vasto e complexo. Não pretendemos entrar em polêmicas. Documentos sérios e
sólidos da Igreja tratam do assunto. Mencionamos aqui apenas dois deles: a
Exortação Apostólica sobre a Vocação e a Missão dos Leigos de João Paulo II
(Christifideles laici) e o Documento de Aparecida. Muitos outros deveriam ser
mencionados. Os leigos são cristãos incorporados a Cristo pelo batismo. Formam
com bispos, padres, diáconos, religiosos e religiosas o povo de Deus.
Participam das funções de Cristo sacerdote, profeta e rei. No dizer do
documento de Puebla são homens da Igreja no coração do mundo e homens do mundo
no coração da Igreja. Sua missão própria se realiza precisamente no mundo e não
nas atividades internas da Igreja mais vinculadas ao ministério dos pastores.
Sua presença e sua ação visam transformar o mundo. Ajudam no nascimento de
estruturas justas no meio do mundo.
9. Evangelii Nuntiandi: “A sua primeira e imediata tarefa (dos leigos)
não é a instituição e o desenvolvimento da comunidade eclesial – esse é o papel
específico dos Pastores – mas sim, de pôr em prática todas as possibilidades
cristãs e evangélicas escondidas, mas já presentes e operantes nas coisas do
mundo. O campo próprio de sua atividade evangelizadora é o mesmo mundo vasto e
complicado da política, da realidade social e da economia, como também da
cultura, das ciências e das artes, da vida internacional, dos meios de
comunicação e, ainda, outras realidades abertas para a evangelização, como
seja, o amor, a família, a educação das crianças e dos adolescentes, o trabalho
profissional e o sofrimento (Evangelii Nuntiandi, n . 70).
10. Os leigos cristãos através de sua vida haverão de tornar crível a
sua fé de modo especial através de uma conduta humana e cristã marcadas pela
coerência. Serão chamados a participar na ação pastoral primeiro pelo
testemunho de vida, pela atuação nos campos assinalados por Evangelii Nuntiandi
e, segundo lugar, com ações no campo da evangelização da animação liturgia e
orante das comunidades.
11. Não podemos deixar de mencionar, no contexto deste tema, uma das
prioridades do apostolado evangelizador dos leigos: a ação evangelizadora da
família. Novamente é Evangelii Nuntiandi que insiste. Fala da Igreja doméstica.
A família, como a Igreja, tem por dever ser um espaço onde o Evangelho é
transmitido e donde o Evangelho se irradia. Belamente assim se exprime o
documento: “No seio de uma família que tem consciência desta missão, todos os
membros da mesma família evangelizam e são evangelizados. Os pais não somente
comunicam aos filhos o Evangelho, mas podem receber deles o mesmo Evangelho
profundamente vivido” (n. 71).
12. Quando falamos da realidade e missão dos leigos não podemos deixar
de mencionar a força das imagens do sal da terra, luz do mundo e fermento da
massa. Christifideles Laici assim se exprime: “As imagens evangélicas do sal,
da luz e do fermento embora se refiram indistintamente a todos os discípulos de
Jesus, têm uma específica aplicação nos fiéis leigos. São imagens
maravilhosamente significativas, porque falam, não só da inserção profunda e da
participação plena do fiéis leigos na terra, no mundo, na comunidade humana,
mas também e sobretudo, da novidade e da originalidade de uma inserção e de uma
participação destinadas à difusão do Evangelho que salva” (n. 15).
13. Laicato maduro – Maduro é um termo que vem da botânica. Os frutos
começam a aparecer depois da floração. Com o sol, a chuva, os cuidados do
agricultor vão se desenvolvendo e chegam a ficar maduros. Trata-se de um
processo que, caso por caso, demanda tempo. Podemos falar de um laicato maduro
em muitos sentidos e desdobramentos que não podemos esmiuçar no limite desta
reflexão. Trata-se de termos na Igreja e na Ordem uma plêiade de leigos e
leigas em nítido processo de amadurecimento. Não há pessoas completamente
maduras, mas em processo de amadurecimento. Para os cristãos, a verdadeira
maturidade se chama santidade. Podemos falar de uma maturidade humana, afetiva,
cristã, franciscana e missionária.
14. No frenesi das coisas e da pressa de nossos tempos, na aceleração de
tudo notamos que as pessoas querem tudo muito rapidamente. Não dão tempo ao
tempo e o processo de maturação. Imaginemos, caricaturalmente, uma situação. Um
moço tem seus 15-16 anos. Estuda sem estudar de verdade. Tem pai e mãe, mas não
é de fato envolvido por eles num processo de educação. Encontra-se com uma
menina, vive um envolvimento amoroso, abandona essa, se casa com outra, faz
faculdade, exerce a profissão, mas não visita seu interior. Casa-se e se
separa. Passa a pagar pensão para o filho. Depois é convidado a frequentar uma
dessas igrejas novas. Como é que esse moço pode crescer em maturidade? Nota-se
que muitos se tornam maduros, desenvolvidos em partes de sua vida e não
realizaram uma maturação global e integrada. São técnicos de informática mas
não têm domínio algum sobre outros aspectos de sua personalidade. São infantis
e imaturos. Não nos esquecemos que muitos desses podem ser membros de nossas
fraternidades e eventualmente serem escolhidos para fazerem parte do Conselho.
Não se compra maturidade nas gôndolas e prateleiras dos centros comerciais.
15. Traços humanos de maturidade
>> O homem é mais do que sua aparência. Uma pessoa adulta ou em
processo de maturação não julga pelo exterior. Sabe que os verdadeiros valores
pessoais e dos outros estão no interior.
>> É sobretudo um ser de relações. Será maduro quando souber viver
serenamente os relacionamentos entre as pessoas.
>> Maduro é aquele que vai organizando um projeto de vida, tendo
um buquê de convicções, não se deixando atropelar por emoções e pelos caprichos
dos acontecimentos.
>> Maduro é aquele que consegue desenvolver boa parte das
dimensões de seu ser: inteligência, vontade, afetividade, profissão, arte da
convivência. Adulta é a pessoa que sabe realizar projetos com outros.
>> O adulto não é marcado pela agressividade e susceptibilidade.
Possui serenidade e segurança interiores.
>> A pessoa em processo de maturação não se considera o centro do mundo e das
atenções e vai aprendendo a fazer o êxodo de si e ser solidária.
>> Dizemos que o adulto é pessoa em processo de maturação e,
persistente, sem ser teimosa.
>> É criativo: não se contenta a repetição do que foi visto e
vivido.
>> Sabe recolher as lições do passado e adivinha os passos a serem
dados amanhã.
>> É capaz de buscar o silêncio, a reflexão. Viaja ao fundo do
coração.
>> Não é ingênuo, mas tem
senso crítico e sabe discernir.
>> Tem senso de responsabilidade e aprendeu a assumir
compromissos.
>> Tem senso de humor: é capaz de rir de si mesmo. Sabe conjugar
alegria e seriedade.
>> Madura é a pessoa que não é doentiamente dependente, mas
autônoma. Sabe respeitar as pessoas. Não tem desejo de posse.
>> Tem flexibilidade de julgamento, guardando distância entre a
dureza ou a teimosia e o deixar que as coisas corram por correr.
>> Maduro é aquele que tem critérios e não se deixa influenciar
por modismos ou fanatismos que passam.
>> Maduro é aquele que tem
capacidade de escutar, de dialogar, saber esclarecer-se pela fala do outro, dar
sua colaboração para que situações sejam revertidas.
16. Traços do leigo cristão em
processo de maturação
>> É fundamental que fique bem claro: clérigo é clérigo, religioso
é religioso e leigo é leigo. Cada um destes tem sua especificidade e,
consequentemente, terão expressões diferentes no mundo e na Igreja.
>> Pessoa cristãmente madura é aquela que se deixa guiar pelo
Espírito e não pela carne, pelo desejo de aparecer e de atribuir a si o que é
dom de Deus. O cristão é formado pela ação do Espírito em sua vida e na
comunidade cristã que frequenta.
>> Trata-se de uma pessoa que vai dando uma resposta pessoal e
comunitária ao Evangelho e suas exigências ao longo de sua vida, percorrendo um
caminho constante de busca do Senhor.
Esse caminho podemos chamar de “conversão”.
>> Pessoa que tem senso de comunidade. Não vive uma religião
privada e particular. Sabe que o Ressuscitado se manifesta no coração da
comunidade cristã.
>> O cristão em processo de maturação leva uma vida de oração
sólida. Tem aguçada preocupação com seu crescimento na intimidade com o Senhor.
Vive alegria particular em rezar com os irmãos. Valoriza, de modo especial, a
Eucaristia. Participa o mais que pode da missa.
>> Cristão leigo maduro é aquele que não se atém a aspectos menos
centrais do cristianismo: procissões, devoções, apego exagerado aos santos.
Maduro é o cristão que vive intensamente em sua vida pessoal o mistério da
Páscoa: morte e ressurreição com Jesus.
A espiritualidade das espiritualidades é a do mistério pascal.
>> Pessoa cuja fé é centrada, efetivamente, na pessoa de Cristo
que busca com ardor e constância. Frequenta o evangelho e tenta se revestir do
espirito evangélico.
>> Está em processo de amadurecimento aquele que busca a unidade,
na diversidade.
>> É capaz de se re-situar na vida. Enxerga os desafios e tem
confiança de que poderá superá-los.Pensamos aqui no caso de alguém que perde um
ente querido, que é tocado por uma grave enfermidade em casa. Tem compreensão da dimensão luminosa do
sofrimento e da cruz.
>> Mostra sintomas de amadurecimento o cristão que sabe colocar-se
à disposição do Senhor em diferentes circunstâncias.
>> Na medida em que vai fazendo sua caminhada humana e cristã
tenta poder dizer com Paulo: “Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em
mim”.
>> Não se deixa levar pelos carismas exteriores e vistosos. Prefere
ocupar um lugar discreto.
>> É perseverante em seus propósitos. Seu sim e sim e seu não é
não.
>> Tem um aguçado senso de Igreja, sobretudo do profundo mistério
da Igreja que é criatura de Deus, esposa de Cristo, Corpo Místico de Cristo.
>> Vive a dinâmica do ver-julgar-agir. “A missão do leigo na
sociedade apresenta-se hoje à consciência cristã como uma forma de
evangelização, em que aspectos diversos podem ser acentuados, conforme o apelo
das circunstâncias e a vocação pessoal de cada um: quer na transformação das
realidades terrestres, pela ação social e política, quer no anúncio da mensagem
evangélica pela palavra, pelo testemunho de vida e pelo diálogo, sempre em
atitude de serviço inspirada pelo Cristo que veio para servir” (Missão e
ministérios dos cristãos leigos e leigas, Doc. CNBB 62, p. 103).
17. Maturidade franciscana
>> O franciscano está em constante estado de amadurecimento. Hoje,
toda a Ordem anda preocupada com a formação permanente.
>> De alguma forma, com o decorrer do tempo, o franciscano como que respira o ar dos
primórdios do carisma franciscano e clariano. No tempo da formação, ele vai se
identificando com o jeito franciscano de viver. Traz o carisma para os dias de
hoje.
>> Cresce na intimidade do Senhor: frequência às páginas do
Evangelho, familiaridade com o Evangelho vivo que se chama Jesus Cristo.
>> Vive um estilo de vida despojado: não gosta de ser protagonista
de coisas grandiosas. É despojado no vestir, no uso das coisas, sem aferrar-se
às suas opiniões.
>> Instaura a paz onde há querelas, divisões e partidos. É
construtor da paz.
>> Sabe que a fraternidade é elemento importante em seu gênero de
vida: fraternidade local, fraternidade com os membros da família franciscana,
instauração de fraternidades cristãs por onde passa. Coloca-se à disposição de sua fraternidade
local. Inventa meios e modos de fazer com que as pessoas façam experiências
solidas de verdadeira fraternidade. Para
o franciscano secular a fraternidade em que vive é parábola do reino.
>> Sabe subordinar seus projetos aos projetos de Deus em sua vida,
na fraternidade e na comunidade.
>> Maduro quando tenta alternar de maneira equilibrada e sábia
momentos de contemplação e ação no mundo.
18. Por que se tornou difícil o
processo de amadurecimento?
>> Uma pessoa em sério
processo de amadurecimento, em vias de tornar-se adulta de verdade, é uma
preciosidade. As pessoas amadurecem ao longo da vida, percorrendo as estações
da existência, na sucessão de experiências pessoais e comunitárias, na
paciência do tempo. Cada biografia tem
suas marcas próprias de amadurecimento
existencial.
>> É preciso dar tempo ao tempo. O amadurecimento se faz através
da lentidão do tempo. Andamos todos apressados, temos muito que fazer, fazer
rapidamente e assim fica difícil que os amores, as falas, os escritos, a
família, a fraternidade franciscana amadureçam.
>> Sem uma verdadeira
escala de valores e sem respeito pela transcendência fica difícil o processo de
amadurecimento. Vivemos num tempo de profunda crise ética e assim muitos somos
desarrumados interiormente.
>> Há a prevalência da lei
do menor esforço, do desejo de se obter aqui e agora e já o que se deseja.
>> Estamos no mundo do individualismo, marcado pelo desejo de
aproveitar a vida. Multiplicam-se as experiências sexuais desde o tempo da
adolescência.
>> Uma pessoa amadurece quando assume compromissos. Ora, vivendo
compromissos “leves”, pulando de meta em meta sem esgotar as riquezas do
primeiro compromisso, o interior das
pessoas não chega a se arrumar de verdade.
As pessoas têm medo de compromissos definitivos. Têm receio de serem
escravizadas por camisas de força (casamento definitivo, vida religiosa,
profissão).
>> Diante de um leque imenso de possibilidades e
eventualidades as pessoas se acham perdidas
e, indo de um lado para o outro, de Seca a Meca, não se aprofundam em
nada. Diante do imenso leque de
possibilidades as jovens gerações têm dificuldade de amadurecer.
>> Há a questão do
amadurecimento cristão das novas gerações. Muitos são simplesmente “catequizados” por um tempo e não vivem um
contato permanente com a fé e suas mais
sólidas expressões. Falta uma catequese familiar, ou simplesmente uma família
sólida. Nossas paróquias não conseguem fazer com que bom número de
cristãos conheçam um crescimento
sistemático da fé. Não favorece a
maturação da fé uma sacramentalização
apenas com pinceladas de evangelização.
>> Sem visitas constantes e regulares ao interior as pessoas podem
conhecer dificuldade de um crescimento mais sistemático.
>> O mundo das imagens e do
som pode ser obstáculo ao amadurecimento tomado globalmente.
19. Desafios e urgências
>> Todas as reflexões que aqui foram feitas colocam os
franciscanos seculares diante de urgências e de desafios.
>> Os franciscanos seculares experimentam alegria de serem leigos
e não têm “saudades” ou “desejo” de serem clérigos. Mesmo quando prestam
serviços à paróquia ou à diocese em diversos setores do culto e da
evangelização são pessoas que experimentam alegria muito grande de serem fiéis
cristãos leigos. Sabem que sua missão é colocar a força do evangelho nas coisas
do mundo.
>> Os franciscanos seculares se aproximam bastante do modo de ser
e de agir da Ação Católica com seu famoso e bem provado método do
ver-julgar-agir. São peritos na arte de examinar a realidade e tentar
impregná-la da espiritualidade evangélico-franciscana. Assim, dão largos passos
na linha de sua maturação cristã.
Fala-se de uma militância dos leigos.
>> Fazem de sua casa uma verdadeira Igreja doméstica, com toda maturidade
de uma espiritualidade leiga. Tudo leva a crer que as fraternidades
franciscanas seculares, na medida do possível, deveriam poder contar com um
número razoável de casais. Em muitos momentos no “território” e na vida das
fraternidades sejam promovidos encontros
com as famílias. Dentro do espírito da secularidade os franciscanos seculares
exercem grande apostolado no seio da própria família e junto a outras famílias.
Vivem franciscanamente a espiritualidade conjugal e familiar.
>> Adotam uma postura de simplicidade e de pobreza evangélica num
mundo de sofisticação, de esnobismo, de consumismo e de gastança. Assim
“fermentam” evangelicamente a realidade. Visibilizam-se como seguidores do
Francisco amante da pobreza.
>> Os franciscanos seculares estarão presentes com frequência e
competência no bairro que moram, na rua onde residem. As alegrias e dramas de
seus vizinhos são suas alegrias e seus dramas. Desta formam “exprimem” seu
desejo de proximidade da vida das pessoas.
>> Adotam posturas de ética que transpiram convicções evangélicas.
Tal se dá individualmente, no jeito como reagem em suas fraternidades. No dia a
dia de suas vidas serão conhecidos como pessoas que tomam decisões na linha da
justiça inspiradas no evangelho. Não é um jeito de tornar expressiva a OFS?
>> Sabem dialogar a respeito dos grandes temas da atualidade:
novas formas de casamento, crise econômica, transformações na bioética. Por
isso, os formadores saberão sempre trazer pessoas capazes de conversar com os irmãos
sobre esses e outros grandes temas da atualidade.
>> Trabalham com lucidez nas diferentes frentes de pastoral. Os
franciscanos seculares estão à disposição dos Conselhos de Pastoral. Estão
dispostos a trabalhar na catequese, na evangelização, na animação de grupos de
reflexão e mesmo na liturgia e no
serviço do alto. Fazem tudo sem perder sua “laicidade”. Não se deixam envolver
por uma “promoção” ao estado clerical. Este aspecto é particularmente delicado.
Os párocos e seus colaboradores contarão
com a colaboração dos terceiros desde que não percam sua características de
cristãos seculares. A OFS não é uma
“pastoral” da paróquia, mas um movimento suscitado pelo Espírito para colocar
alma nova em tudo, também na pastoral.
>> Os que trabalham na pastoral querem uma conversão da pastoral.
“A conversão pastoral de nossas comunidades exige que se vá além de uma
pastoral de conservação para uma pastoral decididamente missionária. Assim será
possível que o único programa do Evangelho continue introduzindo-se em cada
comunidade eclesial com novo ardor missionário, fazendo com que a Igreja se
manifeste como mãe que vai ao encontro, uma casa acolhedora, uma escola
permanente de comunhão missionária” (Doc. Aparecida, n. 370).
>> Nunca trabalharão na linha de uma mera sacramentalização. Os
franciscanos seculares precisarão “incomodar” no sentido de apontar para a
necessidade de se refazer o tecido comunitário e fraterno e que se procure
fazer uma evangelização que atinja o nó de cada pessoa e as insira na comunidade,
na utopia da comunidade.
Conclusão
“Os franciscanos seculares
estejam presentes… no campo da vida pública: colaborem, quanto lhes seja
possível, na elaboração de leis e de normas justas (cf.Regra 15). No campo da
promoção humana e da justiça, as Fraternidades devem empenhar-se com
iniciativas corajosas, em sintonia com a vocação franciscana e com as
diretrizes da Igreja. Tomem posições claras quando a pessoa humana é ferida na
sua dignidade em virtude da opressão e da indiferença, qualquer que seja sua
forma. Ofereçam seus serviço fraterno às vítimas da injustiça. A renúncia ao
uso da violência, característica dos discípulos de Francisco, não significa
renuncia à ação; os irmãos, porém, cuidem que as suas intervenções sejam sempre
inspiradas no amor cristão” (CCGG Art. 22)
Leituras
Exortação Apostólica Vocação e Missão dos Leigos, de João Paulo II
Missão e ministérios dos cristãos leigos e leigas (Doc. CNBB 62).
Carta a Diogneto (em torno de
150).
Questões e questionamentos:
O quem mais chamou sua atenção neste texto?
De modo geral quando é que se pode dizer que um cristão-franciscano está
em serio processo de crescimento?
Como aplicar à realidade o método ver-julgar-agir?
Sinais de maturidade e de imaturidade no momento atual da vida da Igreja
e de nossas fraternidades.
Que expressão tem sua fraternidade local na diocese, na paróquia e no
mundo?
(*) Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM
Assistente Nacional da OFS pela OFM e Assistente Regional do Sudeste III
Aproveitamos a estada em Petrópolis e
visitamos nossas irmãs da Escola Doméstica da Congregação das Irmãs Franciscanas de
Nossa Senhora do Amparo e fomos carinhosamente acolhidos pela irmã Justiniana. http://www.franciscanasdoamparo.org.br
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