1º meio de santificação: Vida em Fraternidade:
Não esquecer nunca: o Terceiro é
um enviado. Todos os cristãos o são. Mas
o franciscano o é de modo especial, isto é, encarregado de uma missão
específica: ser uma continuação da obra de S. Francisco. Levar adiante a
mensagem que ele semeou em seu tempo. E
o que S. Francisco revelou, por palavras e, sobretudo pela vida, foi
particularmente a fraternidade. Todos os homens são irmãos. Devem viver em
fraternidade. Em paz. Em compreensão. Em
colaboração. Em corresponsabilidade. Não de um modo generalizado. Como um
rebanho. Mas de um modo consciente, em que cada homem está convencido disso.
Daí,
o Terceiro é convidado a refletir sobre esta verdade: deve ser um anunciador da
fraternidade. Por isso, todos os movimentos que objetivam esta realidade devem
interessá-lo. Todo o movimento atual em
favor da paz é uma tarefa especificamente franciscana, pois um dos grandes
trabalhos realizados por São Francisco foi o desarmamento: antes de tudo o
desarmamento material, isto é, conseguiu fazer com que os homens depusessem as
armas, esses instrumentos que semeiam morte e tornam os homens valentes. Com a
deposição das armas, conseguiu que desarmassem os espíritos: largaram os ódios,
as provocações, as brigas que dividiam cidades, comunas, famílias e nações. O
coração livre do ódio ao irmão tornava-se clarividente e consegue ver no outro
um irmão. Por isso, o Terceiro é, por
vocação, um paladino da paz e da unidade. Use, pois, o Terceiro suas
possibilidades neste sentido: falando, escrevendo, rezando pela paz universal.
Divulgando as palavras do Papa e da Igreja sobre esse assunto.
Outro
movimento que deve ser caro ao Terceiro é o movimento desencadeado pelo
Vaticano II da aproximação das religiões: o ecumenismo.
Lembremos o amor que nutria S. Francisco por todos os povos e o desejo de lhes
levar o Cristo, mas respeitando sempre as características individuais do homem
e da nação. É admirável a aproximação de S. Francisco com o pensar atual da
Igreja! Sem dúvida, este movimento significou, na Igreja de hoje, uma das mais
extraordinárias aberturas missionárias de todos os tempos. Pois, se até agora
íamos às longes terras buscar adeptos para Cristo, seguidores de Evangelho, não
é menos verdade que esquecíamos – quando não desprezávamos – aqueles que ao
nosso lado, no nosso ponto de vista, estavam afastados de Cristo. Se missionar é fazer de todos os homens uma
família, não devem ser os pontos de vista religiosos os elementos divisores da
humanidade. Também, aqui, pois, o Terceiro pode trabalhar: acompanhar com
interesse o movimento ecumênico, participar dos programas organizados neste
campo, estender a mão caridosa e fraterna aos membros de outras religiões e
rezar ao Pai para que torne verdade o desejo do Filho: Que haja um só rebanho
sob um só Pastor.
Outro
aspecto da fraternidade do Terceiro é sua vivência na comunidade humana, dentro da qual está inserido. Lembremos que S.
Francisco, nos inícios de sua conversão, pensou seriamente em abraçar a vida
solitária e contemplativa, mas, a pedido do próprio Senhor, resolveu
integrar-se na comunidade ativa da Igreja. E ali marcar presença. E quanto
temos para dar: nossa formação ao longo dos anos nos fornece elementos para
compreender a realidade e interpretá-la à luz do Evangelho. Temos mais dever de
ser cidadãos conscientes. Que não se deixam levar por uma idolatria da pátria,
mas também não se refugiam no grupo dos que vivem da pátria, numa sofisticada
exploração. O Terceiro descobre seu lugar na sociedade, em suas várias
manifestações sociais: como cidadão e político, como operário ou dono de
empresa, como empregado público, como promotor do progresso, da cultura e do
bem-estar público. Lembremos que na história da Ordem IIIª encontramos figuras
de todos os postos sociais e políticos. Homens que souberam ser príncipes e
reais franciscanos! Nosso exemplo será a grande pregação. Mas deve ser um
exemplo nascido do nosso estado de franciscanos, amadurecido numa reflexão
consciente, vivido no espírito apostólico. Lembramos o que dizia um príncipe da
Espanha: também rezando se serve à pátria.
E
vem o aspecto familiar. Realmente, a
família do Terceiro deveria trazer uma marca que a distinguisse, porque nela a
fraternidade está presente. O esposo e a esposa vivem a unidade e o amor, que
se derrama na compreensão com os filhos. É uma família onde se reza. Não
simplesmente por rezar, mas porque se compreendeu que a família que reza unida
permanece unida. Uma família onde o interesse mútuo é a nota distintiva, capaz
de fazer exclamar: vejam como se amam! A disciplina também está presente, mas
não uma disciplina que torna as pessoas escravas de leis e lança no rosto uma
seriedade que afasta. Mas uma disciplina que nasce da responsabilidade
assumida, no seio de uma comunidade. E ali está o importante: cada um, dentro
de uma comunidade, é um responsável, isto é, um indivíduo capaz de dar resposta
a todos os apelos que o momento histórico lhe dirige. Numa palavra: a família
do Terceiro é uma família que sente a presença de Deus e transmite esta presença.
Temos,
finalmente, a vida em fraternidade dentro da Fraternidade à qual fomos
agregados. E aqui um ponto muito sério: a comunidade, na qual estamos
inseridos, não é um simples grupo, onde se justapõem pessoas, mas é uma fraternidade, isto é, um encontro de
pessoas, cujo elemento fundamental e unitivo é o frater (o irmão). Como na família o mesmo sangue aproxima e leva a
partilhar, assim na fraternidade a aproximação e a partilha nascem do mesmo
espírito. E o Pai S. Francisco dizia: se os laços carnais conseguem unir tanto
mãe e filho, quanto mais o deveriam os laços espirituais? Se os homens
compreendessem isso, teriam descoberto a mais dinâmica fórmula para trazer de
volta a paz e a compreensão entre os pequenos e grandes grupos de humanidade.
Assim
sendo, deve o Terceiro descobrir o significado enriquecedor de sua Fraternidade
e a ela ligar-se, não só espiritualmente, mas concreta e ativamente. A reunião
não é obrigação, é a chance que Deus nos oferece de um encontro com os irmãos,
onde sentimos o outro, acompanhamos sua luta, nos consolamos mutuamente, e nos
ajudamos na caridade. Partilhamos
experiências, partilhamos alegrias e sofrimentos, partilhamos riquezas
internas, partilhamos coragem e conforto, partilhamos inclusive os bens
materiais. Mas, então, nossa reunião não
pode ser apenas uma ida para escutar palestras, avisos e comunicações, deve ser
uma hora de entrega e doação.
Se
chegamos a isso, não andaremos tirando o corpo fora a cada apelo que a
comunidade nos faz. Não estaremos impassíveis sentados no banco da escuta. Mas
sairemos para um trabalho concreto. Cada desejo manifestado pela comunidade é
uma ordem. E todos nós sentimos, que mesmo em grupos grandes, aos poucos, os
disponíveis se reduzem a um punhado de sacrificados, sempre na primeira linha,
enquanto uma grande massa se contenta com ficar na retaguarda para aplaudir,
quando não critica. Viver na
fraternidade não é viver da
fraternidade, mas para a
fraternidade. E isto exige sacrifícios! Claro que exige. E o dinamismo de uma
Fraternidade Franciscana Secular se mede pela capacidade que tem de exigir de
seus membros. O grupo que se acomoda está se suicidando. Então, as inovações
não devem ser vistas como “novidades”, mas como explosões de força e energia
acumuladas no grupo. Grupo vivo pensa e logo encontra caminhos novos para
seguir. E não é a idade que impede o trabalho, mas sim o nosso modo míope de
ver as coisas. Não só os jovens e os sadios podem fazer apostolado, mas todos
encontram uma forma de participação, contanto que tenham descoberto o que seja
parte de uma Fraternidade Franciscana.
Assim
sendo, a participação do Terceiro em sua Fraternidade é um termômetro de seu
franciscanismo. Atualmente, a Ordem IIIª anulou de seus quadros o “Terceiro
Isolado”, aquele que vivia, sem Fraternidade, um franciscanismo solitário.
Sinal da importância da vida fraterna para atingir os objetivos a que se propôs
a Ordem Franciscana Secular. Convidamos, pois, nossos Irmãos Terceiros a uma
reflexão sob este aspecto de vivência em fraternidade.
Resumindo
este aspecto da vida em fraternidade, citamos os seguintes campos, dentro dos
quais o fraternismo do Terceiro deve aparecer:
-
no movimento pacificador de todo o mundo
-
no movimento ecumênico realizado pela Igreja hoje
-
na comunidade humana, nas múltiplas manifestações sociais
-
no seio da própria família, como exemplo para o ambiente
-
no seio da própria Fraternidade local.
Fonte: Espiritualidade Franciscana Secular – Documentos Franciscanos XIII –
CEFEPAL – Brasil – 1974 – páginas 20/23
Composto
e Impresso nas Oficinas Gráficas de Editora São Vicente – Belo Horizonte - MG
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ResponderExcluirMuito Bom! Belas palavras. Simples mas profundas!
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