CLARA DE ASSIS MULHER NOVA




É Verdadeiramente estar diante de uma mulher-espelho e entrever o contorno de uma experiência contemplativa límpida e cristalina. É reconhecer a delineação de uma figura profética, cuja influência tem atravessado os séculos, irradiando riqueza humana espiritual inesgotável. Mulher que soube assumir profundamente todas as suas potencialidades femininas como enriquecimento da própria aventura evangélica.

Clara, com o fascínio de sua personalidade consciente e madura, continua uma inquietante força e atração.
Em seu ser de Mulher nova chamada nova Maria- em seu ser de mulher pobre, escondida no Mistério de Deus e imersa numa longa noite de contemplação e oração. Clara traz à mulher de hoje a dimensão substancial de seu descobrir-se como mulher. Clara, em uma atitude evangélica de optar radicalmente pela pobreza, em sua solicitude humana, pela situação dos marginalizados e empobrecidos de sua época, emerge, como mulher liberta, das vinculações do sistema. Faz uma opção radical pelos pobres e pelo Cristo pobre, tais como muitas mulheres e homens fazem hoje neste continente empobrecido.

Funda uma Ordem - a primeira na história da Igreja a ter uma Regra aprovada. Com o nome de uma mulher - que vivencia uma nova forma de sociabilidade. Baseada na total partilha do único necessário. Uma comunidade “sorela” verdadeiramente utópica, fundamentalmente na radical igualdade de todas.

Clara revela ter em si uma fonte inestancável de ternura e extravasa para com todas as pessoas queridas: sua família, as irmãs que o Senhor lhe deu, papas, cardeais, e todos os que a procuram em São Damião.
Porém, entre todas as relações, aquela que desenvolveu e manteve com Francisco de Assis tem uma importância particular. Parece desvelar o amadurecimento e o crescimento de Clara como mulher, na integração ontológica do masculino; expressa, além disso, uma das sínteses mais equilibradas e encantadoras da gesta feminina em toda a história humana.

Nesta relação transparece, portanto, uma limpidez em grau eminente. “Entre ambos existe amor e relação de ternura extraordinária, mas, ao mesmo tempo uma transparência de intenções, e convergências no amor de Deus contra toda e qualquer suspeita.“Existe ai algo de Misterioso, de Eros, de ágape, de fascinação e de transfiguração” (São Francisco ternura e vigor, Petrópolis, 1981, p.45).

Jamais puderam sair um do coração do outro e ambos tinham o coração radicado em Deus. A ternura que nutriam entre si continuamente vigorava no amor pelos pobres e pelo Cristo, em que eram espiritualmente irmãos. Clara considerava a si mesma afetuosamente como “plantinha” de Francisco e vê “interiormente clara nele, como se fosse um espelho”.
Clara soube compreender o seu compromisso de mulher, exatamente porque soube partilhar, até o fundo, com Francisco a sua dimensão feminina.

O encanto arquetípico de sua personalidade deriva exatamente da força de integração das potencialidades masculinas em sua própria vida, fazendo florescer sua identidade de mulher e tornando-se um sinal profético na Igreja, pela sua liberdade e abertura ao amor maior e insuperável do Senhor.

Clara de Assis, nova líder das mulheres, nova Maria, revela o seu itinerário humano e espiritual numa intima conexão com a coragem profunda e dinâmica das mulheres da América Latina, em seu amor pelos pobres e pelo Cristo pobre.

A mesma opção definida pelo caminho de liberdade evangélica as une, superando oito séculos de distância. Clara é sinal profético para a mulher latino-americana, que redescobre a sua força de mulher evangelizadora quando, por amor de Jesus e dos seus irmãos, se faz uma entre os pequeninos, privilegiadas e amados pelo Deus do Reino.
(Cf; Irmã Sandra Maria, OSC. Trecho do artigo “Clara de Assis mulher Nova” publicado em “ Cadernos franciscanos n°4, p.41 a 56)

Comentários

  1. Fiquei emocionada pelo texto. Vi, com outros olhos, olhos de fé,a mensagem de Santa Clara. Até então a vi como mulher de fé, historicamente, sob De cultu feminarum, de Tertuliano, isto é, via Santa Clara historicamente, mulher de fé de sua época . Parabéns pelo texto, Frei.

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