SÃO BENEDITO, O SANTO NEGRO
Dia 05 de outubro
Diz o Ofício Litúrgico de São Benedito do próprio da Ordem
Franciscana:
“Benedito
que pela sua cor preta foi chamado o santo preto”. Benedito era de família
descendente da África. Seus avós eram etíopes. Benedito, portanto, tinha a pele
de cor negra. Uma piedade falsa dos séculos 19 e 20 (até os anos 50) queria
atribuir uma cor de pele morena, quase branca, ao nosso santo, como se não
ficasse bem a glorificação nos altares da raça negra. Assim como Benedito,
também Santo Elesbão e Santa Efigênia são de cor negra e deram muitas glórias
ao Senhor e à Igreja.
Humilde foi
a origem do santo negro. Benedito era filho de Cristovam Manasseri e Diana
Larcan, descendentes de escravos trazidos da Etiópia, África, para a Sicília,
Itália. O pai fora escravo de um rico senhor, Vicente Manasseri, e dele
recebera o sobrenome. Diana, sua mãe, fora libertada por um cavalheiro da Casa
de Lanza. E como os escravos tomavam o nome de seu senhor, veio a chamar-se
Diana Larcan ou de Lanza. Casados, Cristovam e Diana viviam como bons cristãos,
fiéis à Lei do Senhor e humildes numa vida de oração e trabalho. Sua mãe,
conforme consta do processo de beatificação de São Benedito, era devota
fervorosa do Santíssimo Sacramento e extremamente caridosa para com os pobres,
dons que Benedito herdaria por toda a vida. Cristovam era fervoroso, voltado
para Deus, a família e o trabalho. Recitava diariamente com edificante piedade
o Rosário de Maria e o ensinava a quantos com ele trabalhava. Diante dele
ninguém blasfemava ou dizia obscenidade. Tantas vezes podia, aproximava-se da
Mesa Eucarística. Mereceu a confiança dos patrões, pela honestidade e retidão
que o caracterizavam no trabalho. Por isso foi nomeado chefe dos trabalhadores.
Dispunha os seus bens em favor dos mais pobres.
Um fato que
chama a atenção na vida do pai de Benedito: por ciúmes, alguns companheiros de
trabalho o caluniaram, dizendo que ele dilapidava os bens do patrão em nome da
caridade. O honesto feitor viu-se do dia para a noite deposto de seu cargo,
sofrendo vergonha e humilhação. Deus veio em seu socorro: os negócios de
Manasseri não iam bem e sua terras já não produziam como antes. Morriam seus
animais e seus campos eram vítimas de pragas. O patrão percebeu a injustiça que
havia cometido e mandou chamar Cristovam e o reintegrou no cargo de ofício, com
mais poder e autoridade que antes. Fez ainda mais: deu ao escravo piedoso e
fiel, toda a liberdade para socorrer os pobres que o procurassem. Deu muitas
esmolas e os negócios de Manasseri prosperaram.
Outro fato
que chama a atenção nos pais de Benedito é de que fizeram voto de castidade ao contraírem
matrimônio, vivendo na penitência, no trabalho e na oração. Foi o patrão quem
persuadiu os pais a exercerem os seus direitos de matrimônio, prometendo dar
liberdade aos seus descendentes. Assim o fizeram, assim nasceu Benedito, fruto
de uma bênção especial de Deus: Bendito! Bendito! Bendito! Era o ano de 1524.
Nasceu livre quanto à condição, e mais livre quanto à santa liberdade dos
remidos pelo Sangue do Cordeiro. Dele se dizia: Negro e muito formoso, devido
os traços finos de seu rosto. A formação cristã do pequeno Benedito se deve à
sua mãe, Diana, virtuosa e rica da graça do Senhor. Benedito crescia em idade,
sabedoria e graça diante de Deus e dos homens. Cristovam e Diana, repartindo o
tempo entre a oração, o trabalho e a educação de seu primogênito, viviam
santamente e Benedito era levado à Igreja pelas mãos paternas. Tiveram outros
filhos: Marcos, Baldassara e Fradella. Esta se casou com um escravo chamado
Antonio Nastasi, com o qual teve uma filha, Violante, que mais tarde entrou
para um convento da Ordem Terceira de São Francisco, recebendo o hábito de seu
tio Benedito. Chamou-se Sóror Benedita e viveu santamente. Morreu em Palermo, e
há testemunhas que atestam milagres operados por Deus com a sua intercessão.
Benedito foi pastor de ovelhas. Foi muito fiel
ao seu dever. Enquanto pastoreava, rezava piedosamente o Rosário. Procurava os
lugares mais afastados, pelos altos montes, com boa pastagem e água para seu
rebanho, para poder também orar e meditar. Certa vez o encontraram escondido em
uma gruta, num momento de folga, de joelhos, olhos fixos no céu, todo
arrebatado em êxtase. A partir desse dia, nunca mais o ridicularizaram.
Aos dezoito
anos, Benedito se abrasou no amor do Senhor e demonstrou interesse em se
dedicar totalmente a Jesus. Com sacrifícios, conseguiu comprar uma junta de
bois, e com eles passou a ganhar alguns trocados e socorrer os pobres. Isso
durou até completar vinte e um anos de idade. Frei Jerônimo Lanza, natural de
San Marco, abandonou o mundo e se recolheu com alguns companheiros num
eremitério de Santa Dominica, na região de Caronia. O Papa Júlio III autorizou
aos novos eremitas professarem a Regra Seráfica de São Francisco, juntando
ainda aos votos de pobreza, obediência e castidade, o voto de vida quaresmal,
que os levava a jejuar três dias por semana. Numa de suas viagens, Jerônimo
conheceu Benedito, que num momento de descanso era injuriado e zombado pelos
companheiros de trabalho por causa da cor da pele. Frei Jerônimo ouviu e
repreendeu severamente os injustos e lhes disse em tom profético: “Ah! Hoje, fazeis
caçoadas e ridicularizais este pobre negrinho; mas daqui a poucos anos vereis a
sua fama correr todo o mundo!” Voltando-se para o patrão lhe disse: Eu vos
recomendo muito este moço porque logo ele virá em minha companhia e se há de
tornar um santo religioso!”
Alguns dias
depois, Frei Jerônimo voltou àquele lugar e disse ao ver Benedito: “Que fazes
aqui? Vamos! Vende estes bois e vem comigo.” Benedito não teve dúvidas e o
seguiu. Seus pais, não obstante necessitassem da ajuda monetária do filho, não
se opuseram à vocação do filho. Os
irmãos Eremitas Franciscanos levavam vida austera, em extrema pobreza.
Mendigavam o pouco de pão nas vizinhanças, e tinham algumas ervas e água para
sustentar. A habitação era paupérrima, estreita e sem conforto. Vestiam-se de
grosseiro pano e passavam longas horas em oração. Depois da sua profissão
solene, Benedito quis usar um manto parecido com o de São Paulo Eremita, feito
de folhas de palmeira, com um capuz de lã muito velha protegendo a cabeça. Em
1562, contando o santo com 38 anos de idade, o Papa Pio IV, ouvindo os apelos
de eremitas que não suportavam os rigores do 4º voto, o de vida quaresmal,
ordenou que os eremitas de Frei Jerônimo se recolhessem a qualquer dos
conventos franciscanos regulares, dispensando-os do 4º voto. Benedito,
indeciso quanto ao convento em que se recolheria, foi orar na Catedral
Metropolitana de Palermo, diante da imagem de Nossa Senhora, sob o título de
Madona di Libera Inferni e, chorando, pediu a intercessão da Mãe para a sua
escolha. Ouviu a voz da Mãe falando no seu coração: “Meu filho, é vontade de
Deus que entres para a Ordem dos Frades Menores Reformados”: Sua vocação estava
resolvida! Agradecendo à Maria, foi imediatamente ao Convento de Santa Maria di
Gesú, duas milhas de Palermo.
Fatos
importantes da vida de Benedito no Convento de Santa Maria di Gesú:
* foi
recebido em festa pelo Guardião dos Franciscanos, Frei Arcângelo de Scieli, que
conhecia sua fama de santidade;
* depois de
poucos dias, foi enviado ao Convento de Sant’Ana di Giuliana, um dos Mosteiros
mais fervorosos da Ordem;
* após 03
anos, voltou ao Convento de Santa Maria di Gesú, onde ficaria até a morte;
* seu
primeiro ofício foi o de cozinheiro, juntando a atividade de Marta à contemplação
de Maria (Lc 10, 38-42). Fez da cozinha um santuário de oração, vivendo sempre
alegre e cheio de mansidão para com todos;
* início
dos prodígios: o Capítulo da Ordem iria se realizar no Convento. Devido à neve,
os frades não poderiam mendigar conforme a Regra estabelecia. Por descuido, o
Superior não providenciou o necessário. Como a situação era grave, Benedito
chamou um de seus auxiliares e o mandou encher umas vasilhas de água. Diante do
espanto do Irmão, que sabia não haver carnes ou peixes para a refeição,
Benedito replicou: enche as vasilhas e cobre-as com tábuas. Recolheu-se aos
seus aposentos e pôs-se a rezar. Ao amanhecer, chama seu auxiliar e vão à
cozinha. Ali ocorreu o milagre: grandes peixes, suficientes para várias
refeições, estavam nas panelas;
* certo dia a carne chegou atrasada e os frades começaram a
pedir a mesma. Benedito disse que a mesma estava ao fogo há poucos minutos, mas
iria ver o que fazer. Encontrou a carne bem temperada, cozida e pronta;
* trinta
operários prestavam serviços voluntários no convento. Certo dia, porque vieram
sem prévio aviso, encontraram as despensas do Convento vazias. Benedito pôs-se
em oração e serviu farta refeição aos operários e ainda sobraram alimentos para
a despensa;
* Sem lenha
para o fogão, Benedito subiu ao monte e encontrou uma grande árvore derrubada
por raio. Seriam necessários vários homens fortes para conduzirem a mesma. No
entanto Benedito a colocou no ombro sem nenhum esforço, causando espanto a
todos os que viam a cena;
* O Arcebispo
de Palermo, Dom Diogo d’Abedo, gostava de se recolher uns dias para descansar e
rezar no Convento de Santa Maria di Gesú. Vindo para as festas do Natal, trouxe
consigo grande quantidade de víveres. Na missa da aurora do Natal, Frei
Benedito, abrasado de santo amor, vai receber a Santa Comunhão. Sente o Menino
Jesus em seu coração como no presépio de Belém. Chora ao contemplar um quadro
ao lado do Altar. Caiu em êxtase, ficando ali várias horas arrebatado, sem
pensar nos trabalhos da cozinha. Quando estava para começar a Missa solene
Pontifical, o Superior foi à cozinha e viu o fogo apagado. Clamou por Benedito,
reclamando o almoço para logo depois da Missa. O Convento ficou em polvorosa,
para não fazer feio diante do Arcebispo. Foi o turiferário quem encontrou
Benedito a contemplar o Menino Jesus, chamando sua atenção quanto ao almoço. A
resposta de Benedito o desconcertou: Não se aflija irmão! Após a Missa, acendeu
uma vela e voltou a rezar. Os irmãos o injuriavam revoltados com a preguiça e o
descaso do frade negro. Viam a vergonha diante dos olhos. Benedito calou-se e
calmamente acendeu o fogo. Quando chegou o horário da refeição e o Superior
ordenou a arrumação da mesa, viram dois belos jovens acabando de preparar
suculento banquete para o Arcebispo e todos do convento. As injúrias se
transformaram em louvores e graças ao Senhor e ao humilde servo. Benedito era
leigo e analfabeto. Mesmo assim, tornou-se Superior do Convento e modelo
admirável no governo daquela casa;
* em 1578,
reuniu-se o Capítulo Provincial dos Franciscanos no Convento de Santa Maria dos
Anjos, em Palermo. Houve a separação da Reforma e da Observância da Regra,
sendo que o Convento onde Benedito morava passou à Ordem Reformada. Frei
Benedito foi eleito Superior, por sua santidade e servidão. Enquanto todos se
alegravam, Benedito se entristeceu e procurou o Padre Superior, rogando que o
liberasse desse cargo, pois era analfabeto e ignorante. Seu Superior não o
liberou e, em nome da Santa Obediência declarou: Doravante serás o Superior do
Convento de Santa Maria di Gesú. À Benedito coube somente obedecer;
* sua
firmeza e observância das Regras faziam com que o Convento tivesse uma vida
ativa e cheia de graça;
* alguns autores dizem ter sido Frei Benedito Mestre de Noviços. Há autores que discordam, pois esse cargo era exercido somente por Presbíteros. Mas a dúvida continua, pois já havia acontecido a exceção quando Benedito foi indicado para o cargo de Superior, exercido também por um Presbítero;
* alguns autores dizem ter sido Frei Benedito Mestre de Noviços. Há autores que discordam, pois esse cargo era exercido somente por Presbíteros. Mas a dúvida continua, pois já havia acontecido a exceção quando Benedito foi indicado para o cargo de Superior, exercido também por um Presbítero;
* os
noviços tinham grande admiração por Benedito e tinham nele um grande
conselheiro;
* Benedito
tinha o Dom da Ciência Infusa. Sem saber ler ou escrever, conseguia dar aulas
sobre todos os assuntos ligados à Religião, à Ordem ou à Fé. Tinha muita
clareza, espírito e unção. Teólogos e Mestres ouviam atentamente o grande
santo;
* Segundo
Frei Giacomo di Pazza, uma das testemunhas do processo de beatificação, não se
passava um dia sem que acontecesse um prodígio operado pela intercessão de São
Benedito;
* Um dos
milagres operado em vida: várias senhoras, num carro puxado por cavalos,
sofreram um grave acidente, no qual D. Eleonora caiu sobre uma criança de cinco
meses de idade, tendo a criança morrido asfixiada. Diante do desespero de
todos, Benedito tomou a criança nos braços, põe a mão na testa gelada e recita
algumas orações. Entregando a criança, disse: a senhora já pode amamentar a
criança. A criança morta, em contato com o seio da mãe, adquire vida novamente
e suavemente suga o leite da mãe (na imagem tradicional, São Benedito está
carregando essa criança, e não o Menino Jesus, como muitos acreditam);
* uma
criança morreu esmagada sob o peso do pai e do carro puxado por cavalos em que
estava. Pedindo confiança em Deus e em Nossa Senhora, Benedito toma nos braços
a criança, enquanto inicia a oração. Ao fazer o sinal da Cruz sobre a criança,
esta abre os olhos e pôs-se a chorar e gritar. Ressuscitara maravilhosamente;
* Também um
cego recupera a visão quando Benedito lhe faz o sinal da Cruz sobre os olhos;
outro cego, que perdera a visão há um ano, sem conseguir resultados com os
médicos, recupera a visão quando Benedito lhe faz o sinal da Cruz sobre os
olhos;
* Incrível!
Até um cavalo é ressuscitado por Benedito, o cavalo que era do serviço do
Convento e que caíra num abismo;
* após
servir os pobres, Frei Vito vira chegar soldados espanhóis famintos e sedentos.
Assustado, viu que havia poucos pães em seu cesto. Instado por Benedito a
servir os soldados, percebeu que o cesto não se esvaziava e assim pôde
alimentar grande contingente de soldados;
* um
pescador pobre, pai de sete filhos, não conseguia pescar um mísero peixe
sequer. Vendo a aflição do pobre homem, Benedito orou e o pescador viu
quantidade inacreditável de peixes em sua rede;
Muitas
curas físicas foram realizadas por Deus sob a intercessão de São Benedito, em
vida e após a sua morte. Em fevereiro de 1589 Benedito caiu gravemente enfermo.
Embora seu médico, de grande fama na região, previsse sua morte, Benedito o
alertou que ainda não havia chegado sua hora. Portanto, recuperou-se. Em março
tornou a adoecer, com uma febre muito alta. Nenhum remédio o aliviava. Previu
então sua morte e fez um pedido estranho: “enterrem logo o meu corpo para que
não tenham contrariedade”. Recebeu
a Unção dos Enfermos e o Viático, preparando-se para o encontro com o Senhor.
Não aceitou ainda a colocação das velas em suas mãos, pois avisaria quando
chegasse a hora. Recebeu a visita de Santa Úrsula e as onze mil virgens em
visão. Daí poucos minutos, chamou Frei Guilherme e mandou que acendesse a vela
e pusesse em suas mãos. Era chegada a hora. Exclamando “Jesus! Jesus! Minha Mãe
doce Maria! Meu pai São Francisco”, Benedito faleceu na paz do senhor. Eram 19:00
horas de 04 de abril de 1589, terça-feira de Páscoa, aos 65 anos de idade, dos
quais passara 21 anos no mundo, 17 no Eremitério e 27 na Ordem Franciscana. A
profecia de que era preciso enterrar logo o seu corpo, cumpriu-se após o
velório. Multidão invadiu o Convento querendo relíquias ou lembranças do grande
santo. Em 07 de maio de 1592, seu corpo foi transladado pela primeira vez. Do
seu corpo exalava sublime perfume, sendo seu corpo encontrado em perfeito
estado de conservação, sem uso de qualquer produto químico. Em 03 de outubro de
1611 foi feita a segunda transladação do corpo, colocado em urna de cristal.
Ainda hoje continua conservado, exposto em Urna Mortuária para visitação
pública numa Capela lateral da Igreja de Santa Maria, em Palermo, Itália.
Fonte: São
Benedito, o Santo Negro - Monsenhor Ascânio Brandão - Indústria Gráfica
Siqueira, 1949.
Foto:
Igreja de São Benedito em Aparecida do Norte – SP.
ORAÇÃO A SÃO BENEDITO
Ó glorioso São Benedito,
que nos destes o exemplo de humildade, caridade e um coração cheio de amor para
com Deus: alcançai-me de Jesus a graça que vos solicito...
Confortai-me o meu coração. Fortificai a minha
vontade e dai-me confiança. Sede meu companheiro. Assisti-me e guiai-me na hora
de minha morte. Fazei que a vosso exemplo, eu despreze as vaidades deste mundo,
aumentando em mim o amor a Deus e ao próximo. Rogue sempre por mim que tanto
preciso. Amém.
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